«Num sábado, Jesus entrou para comer na casa de um dos principais
fariseus. Eles o observavam atentamente». Ao ler o Evangelho a partir de
um certo ponto de vista, acabou-se fazendo dos fariseus o modelo de
todos os vícios: hipocrisia, falsidade; os inimigos por antonomásia de
Jesus. Com estes significados negativos, o termo «fariseu» passou a
fazer parte do dicionário de nossa língua e de outras muitas.
Semelhante ideia dos fariseus não é correta. Entre eles havia
certamente muitos elementos que respondiam a esta imagem, e Cristo os
enfrenta. Mas nem todos eram assim. Nicodemos, que vai ver Jesus de
noite e que depois O defende ante o Sinédrio, era um fariseu (cf. João
3,1; 7,50ss). Também Saulo era fariseu antes da conversão, e era
certamente uma pessoa sincera e zelosa, ainda que não estivesse bem
iluminado. Outro fariseu era Gamaliel, que defendeu os apóstolos ante o
Sinédrio (cf. Atos 5,34 e seguintes).
As relações de Jesus com os fariseus não foram só de conflito.
Compartilhavam muitas vezes as mesmas convicções, como a fé na
ressurreição dos mortos, no amor de Deus e no compromisso como primeiro e
mais importante mandamento da Lei. Alguns, como neste caso, inclusive O
convidam para uma refeição em sua casa. Hoje se considera que mais que
os fariseus, quem queria a condenação de Jesus eram os saduceus, a quem
pertencia a casta sacerdotal de Jerusalém.
Por todos estes motivos, seria sumamente desejável deixar de utilizar
o termo «fariseu» em sentido depreciativo. Ajudaria ao diálogo com os
judeus, que recordam com grande honra o papel desempenhado pela corrente
dos fariseus em sua história, especialmente após a destruição de
Jerusalém.
Durante a refeição, naquele sábado, Jesus ofereceu dois ensinamentos
importantes: um dirigido aos «convidados» e outro para o «anfitrião». Ao
dono da casa, Jesus disse (talvez diante dele ou só em presença de seus
discípulos): «Quando deres um almoço ou um jantar, não convides seus
amigos, nem seus irmãos, nem seus parentes, nem os vizinhos ricos…». É o
que o próprio Jesus fez, quando convidou ao grande banquete do Reino os
pobres, os aflitos, os humildes, os famintos, os perseguidos.
Mas nesta ocasião, quero deter-me a meditar no que Jesus diz aos
«convidados»: «Se te convidam a um banquete de bodas, não te coloques no
primeiro lugar…». Jesus não quer dar conselhos de boa educação. Nem
sequer pretende alentar o sutil cálculo de quem se põe numa fila, com a
escondida esperança de que o dono lhe peça que se aproxime. A parábola
nisso pode dar pé ao equívoco, se não se levar em consideração o
banquete e o dono dos quais Jesus está falando. O banquete é o universal
do Reino e o dono é Deus.
Na vida, quer dizer Jesus, escolhe o último lugar, procura contentar
os demais mais que a si próprio; seja modesto na hora de avaliar seus
méritos, deixa que sejam os demais quem os reconheçam e não você
(«ninguém é bom juiz em causa própria»), e já desde esta vida Deus lhe
exaltará. Ele lhe exaltará com sua graça, lhe fará subir na hierarquia
de seus amigos e dos verdadeiros discípulos de seu Filho, que é o que
realmente importa.
Ele lhe exaltará também na estima dos demais. É um fato
surpreendente, mas verdadeiro. Não só Deus «se inclina ante o humilde e
rejeita o soberbo» (cf. Salmo 107,6); também o homem faz o mesmo,
independentemente do fato de ser crente ou não. A modéstia, quando é
sincera – não artificial – conquista, faz que a pessoa seja amada, que
sua companhia seja desejada, que sua opinião seja desejada.
Vivemos numa sociedade que tem suma necessidade de voltar a escutar
esta mensagem evangélica sobre a humildade. Correr para ocupar os
primeiros lugares, talvez pisoteando – sem escrúpulos! – a cabeça dos
demais, são características desprezadas por todos e, infelizmente,
seguidas por todos. O Evangelho tem um impacto social, inclusive quando
fala de humildade e hospitalidade.
Pai, faz-me humilde e discreto no trato humano. E que eu não aspire
grandeza humana. Basta-me ser reconhecido e exaltado por Ti. Amém.
Padre Bantu Mendonça
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